O cinema brasileiro vem tomando novos rumos nos últimos anos, tendo inclusive ganhando mais notoriedade dentro e fora do nosso território. Em 2019, foram 327 produções brazucas nas telas, mas com uma queda de 10% comparado a 2018.
Porém, as nossas produções ainda são muito menosprezadas e raramente figuram entre os filmes com maior bilheteria no país nas listas anuais. Isso, entretanto, não significa que falta qualidade. O cinema brasileiro passou por duas grandes fases de sucesso: o período entre o fim da década de 1950 e início da década de 1960 e o grande ressurgimento do cinema nacional, em meados dos anos 90, que perdura até hoje.
Na primeira fase, o Brasil produziu grandes filmes, incluindo dois sucessos de críticas e clássicos mundiais: Orfeu Negro e O Pagador de Promessas. O primeiro, produzido em parceria com a França, levou o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 1960 – porém, mesmo sendo gravado no Brasil e todo em língua portuguesa, o prêmio entra pra conta da França porque o diretor do filme ra francês. Já “O Pagador de Promessas” trouxe pro Brasil o Palma de Ouro, estatueta mais importante do Festival de Cinema de Cannes.
Porém, depois d’O Pagador de Promessas, o cinema nacional entrou em um limbo de produções com pouca notoriedade e pouco valor cultural. Foi só em 1995 que o cinema tupiniquim voltou a respirar: “Carlota Joaquina – Princesa do Brazil” trouxe o vigor que a indústria cinematográfica precisava pra retomar as rédeas e produzir bons filmes. O mais legal de tudo? Além de ser um baita filme, foi protagonizado, escrito, produzido e dirigido por mulheres.
Na sequência do filme, o cinema reviveu e saíram daqui produções como “O Quatrilho” e “O Que é Isso, Companheiro?”, ambos indicados ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. Em 1998, Central do Brasil figura como favorito ao mesmo prêmio (perdeu para o italiano A Vida é Bela) e Fernanda Montenegro foi a primeira atriz brasileira a concorrer à estatueta de Melhor Atriz.
Depois disso, ainda foram produzidos filmes como “Cidade de Deus”, sucesso internacional (e indicado a 4 prêmios, incluindo Melhor Diretor), “Cidade dos Homens”, “Tropa de Elite” e. nos últimos anos, filmes como “Minha Mãe é uma Peça” levaram milhões aos cinemas.
Pensando nisso, e em comemoração ao Dia do Cinema Brasileiro, que se comemora no dia 19 de junho, escolhemos alguns dos melhores filmes brazucas, e inclusive mencionamos em quais plataformas de streaming eles estão. A lista tá dividida em duas partes: os filmes que são fáceis de serem encontrados em lugares como Amazon Prime, Netflix e Globoplay, e os outros que podem ser vistos de outras formas. Vambora?
NETFLIX
Reflexões de um Liquidificador
O marido de uma mulher desaparece repentinamente e, enquanto a polícia tenta descobrir o paradeiro do homem, a sua esposa começa a refletir sobre seu relacionamento com a ajuda de… um liquidificador falante.
A história parece meio doida (e é), mas é extremamente divertida. O filme, que é uma mistura de sátira/comédia com suspense, é curtinho e extremamente bem amarrado. Lançado em 2010, causou pouco burburinho, mas desde que chegou na Netflix ganhou as telas de muita gente – e juro, vale muito a pena! É daqueles filmes que você não pisca por um segundo (ou só quando para pra rir, seja pela comédia ou pelo nervoso do suspense).
O Som ao Redor
Kléber Mendonça Filho é um dos diretores mais renomados do cinema brasileiro nos últimos anos. O cara dirigiu o excelente Bacurau, de 2019, e Aquarius, um dos filmes mais elogiados da última década em todo o mundo.
O reconhecimento de Kléber, entretanto, se deu com O Som Ao Redor. O filme conta a história de um grupo de vizinhos endinheirados que resolvem contratar uma equipe de segurança para o seu prédio, mas no fim essa galera acaba trazendo ainda mais problemas pra eles.
Hoje Eu Quero Voltar Sozinho
Lançado em 2014, Hoje Eu Quero Voltar Sozinho amoleceu o coração de muita gente pelos cinemas brasileiros. O filme narra a história de Léo, um garoto cego que sofre diariamente com os preconceitos da sociedade, principalmente dentro da sua escola. Tendo apenas uma grande amiga na sala, o garoto conquista a amizade de um recém-chegado na sala.
O que poderia ser apenas uma boa história de amizade e superação de preconceitos com pessoas com deficiência na verdade é uma boa história de romance: os meninos acabam se apaixonando um pelo outro. E justamente pela beleza da história que o filme vale a pena, tendo sido listado por diversos canais como um dos melhores filmes brasileiros do ano e levando uma nomeação de Melhor Lançamento no GLAAD Awards, um dos principais prêmios da comunidade LGBT+ no mundo.
Como Nossos Pais
O filme que leva o nome de uma das músicas mais emblemáticas da MPB é uma das produções mais interessantes do nosso cinema “recente” (ele é de 2017, mas conta, né?!). Rosa, a personagem principal, é uma típica mulher do século XXI, que se divide entre as funções da casa, sua carreira e sua família – que incluem os seus pais, o marido ausente e as duas filhas.
A relação com os pais é complicada, visto que ambos são progressistas, enquanto ela é um pouco mais conservadora que eles. Além disso, seu casamento não anda nos melhores dias e, além disso, ela teme pelo futuro das suas filhas. Uma história quase real, o filme é incrível por abordar questões importantes, como ansiedade, diferença geracional e as próprias relações amorosas. E o mais legal é ver a intertextualidade dele – parte da história se parece muito com um dos contos de A Mulher Desiludida, uma das obras de ficção mais aclamadas da francesa Simone de Beauvoir.
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AMAZON PRIME
Deus é Brasileiro
Quem nunca ouviu a frase “Deus é brasileiro” toda vez que a Seleção Brasileira de Futebol ganha algum jogo talvez esteja convivendo com as pessoas erradas. Mas além de ser um jargão comum no nosso dia a dia, esse é também o nome de um dos filmes mais legais produzidos no Brasil no início dos anos 2000.
Protagonizado por Antônio Fagundes e Wagner Moura, Deus é Brasileiro mostra o período em que Deus, frustrado com as burrices e erros da humanidade, resolve buscar um santo substituto para a sua posição – Deus resolveu tirar férias – e é no Brasil onde Ele vem buscar essa pessoa. O filme, que se baseia numa obra de João Ubaldo Ribeiro, é uma das melhores comédias brasileiras e, além de tudo, mostra os regionalismos do Norte e Nordeste do país.
Cidade de Deus
A comunidade mais famosa do mundo é onde se desenrola um dos filmes brasileiros mais reconhecidos e citados internacionalmente. Ele foi reconhecido como um dos 100 melhores filmes de todos os tempos pela TIME, um dos 200 melhores filmes do século XXI pela Empire e um dos melhores filmes de ação da história pelo The Guardian.
E não é por menos: abordando a vivência na comunidade Cidade de Deus, o filme retrata com muita veracidade episódios de violência, tráfico de drogas e aliciação infantil no tráfico. Mas para além disso, o filme é uma verdadeira crítica a um sistema excludente e violento com as pessoas de comunidades, que sofrem antes de tudo de uma violência social que os poupa de oportunidades e um futuro melhor. É um filme violento, perturbador e necessário, mesmo quase 20 anos passados do seu lançamento.
Café com Canela
Margarida, protagonista do filme, perdeu seu filho e, depois disso, acabou se afastando do marido e se isolando em sua casa. Ela perde contato com todas as pessoas do seu passado, até que um dia Violeta, sua antiga aluna, resolve visitá-la e traz a personagem de volta ao mundo.
Essa é a breve história de Café com Cancela, um dos filmes brasileiros mais emocionantes dos últimos anos. Abordando nuances como maternidade e depressão, é um filme extremamente necessário porque, além da história emocionante, é o primeiro longa brasileiro com uma mulher negra na direção em mais de 30 anos. Ademais, é um dos poucos filmes gravados no recôncavo baiano, mostrando o longo caminho que a indústria cinematográfica precisa percorrer para estar em todo o país. O elenco conta com Valdinéia Soriano, Aline Brunne e Babu Santana.
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GLOBOPLAY
Que Horas Ela Volta?
Protagonizado por Regina Casé, Que Horas Ela Volta? é um dos filmes mais bonitos e duros do cinema brasileiro recente. No filme, Casé dá vida a Val, uma empregada doméstica de uma família de classe alta de São Paula. Nordestina e de baixa renda, deixava sua filha em sua casa para cuidar da casa e dos filhos de seus patrões.
Tratando com uma extrema realidade a situação de muitas empregadas domésticas do Brasil, é um filme também muito bonito. A simplicidade de Val encanta, o seu carinho com os seus filhos postiços – ou melhor, os filhos de seus patrões – transborda as telas. Mas a distância de sua família, o pouco dinheiro e os maus tratos dos patrões também assustam.
É justamente nesse jogo de poderes, mudanças drásticas e uma representação muito semelhante à realidade que o filme encanta. É daquelas produções que te deixam com lágrimas nos olhos. Mesmo.
Minha Mãe É Uma Peça
O primeiro filme em que Paulo Gustavo levou a Dona Hermínia às telonas do Brasil é um marco no cinema nacional. No filme, a Dona Hermínia é mãe de dois filhos que a consideram chata, e por isso ela resolve passar uns tempos na casa de sua tia.
O que era pra ser um momento mais calmo na vida da personagem se desdobra em um bocado de cenas hilárias que envolvem o passado de Dona Hermínia. Uma das personagens mais conhecidas do cinema brasileiro nos últimos anos, o filme foi um sucesso de bilheteria e rendeu outras duas continuações, ambas figurando na lista de 10 maiores bilheterias nacionais de todos os tempos.
Elis
Elis Regina foi a maior cantora brasileira de todos os tempos – isso segundo a Rolling Stone, uma das revistas mais importantes do meio musical.
“Elis” é um filme biográfico lançado em 2016 e conta a história de vida da cantora. Das perseguições dos militares durante à ditadura, passando pelos problemas com drogas e álcool, até a sua morte precoce, é um filme necessário para entender a vida da cantora.
É uma representação bonita e real da vida da cantora que, mais de 30 anos passados desde a sua morte, segue imortal no repertório de todos os brasileiros.
E os outros?
O cinema brasileiro é muito rico, mas alguns filmes ainda não fazem parte do catálogo de muitos serviços de streaming. Por isso, escolhemos 5 peças que você precisa ver – e que podem ser encontradas em alguns canais, como Mubi, NetNOW e Telecine. Se liga na lista:
- Bacurau
- O Pagador de Promessas (o original, de 1962)
- O Meu Pé de Laranja Lima
- Orfeu Negro
- Central do Brasil
- Madame Satã
- O Ano em Que Meus Pais Saíram de Férias
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